11 setembro 2006

Passarim



para Surya


.

tua incansável melodia
paciente e aguda,
passarim da alameda
na esquina do mundo
no verso na estrofe
no espaço alinhavado
entre solos e céus,
que não esperam mais
alfarrábios
ou longínquas mensagens,

por tua generosidade sutil,
tom de voz intimado:
ao longo de séculos
construímos uma estrada
infinita e breve
de pontos, acentos, cantos
de safras colhidas nos campos
nas trovas, ensejos.

de tão próxima
te ausentas, em que laço
desfeito, nó arrebatado
voz efêmera, e tristes fados,
que marés revolves nestes pensares
que origens, remotas e familiares
bagagem de rumos incertos,
te trago comigo
nos passos miúdos
do desconhecido?

..

nos albergues e janelas para o mundo,
vitrais, cristaleiras,
objetos remotos e guarnições e
esperanças em papéis assinalados,
rabiosas folhagens e jardineiras
nos apreendemos,
na tônica dos pulsares
no fechar incalculável das pestanas
quando adentramos, sem alarde,
corredores e salas em silêncio,
casas vazias e roupas inúteis
e noites de improvisos
e dias sem nuvens,
entre montales, quasimodos,
drummonds, schulz,
barros e hatouns

feitos de saudades, sinais
recordações e preces
conversamos, livres
em versos e anversos
repletos de fome
pelos povoados estéreis
e suas estáveis paisagens;
e casas com nomes e números
e cercas
e geografias humanas
e circunstâncias.

no tempo, ficamos
deixamos relógios
bagagens, sapatos, rituais
e o que resta de nossas algibeiras

nos fixamos,
enquanto esperanças
mensagens cativas
considerações e devires;
vicissitudes.

e arenosos,
prosseguimos, esquivos
da caça mística
e improvável
do Amor...


.


Nenhum comentário: