13 março 2008

Alquimia do Verbo, por Rimbaud



"Para mim. A história das minhas loucuras.

Há muito me gabava de possuir todas as paisagens possíveis, e julgava irrisórias as celebridades da pintura e da poesia moderna.

Gostava das pinturas idiotas, em portas, decorações, telas circenses, placas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos, ritmos ingênuos.

Sonhava com as cruzadas, viagens de descobertas de que não existem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião esmagadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes: acreditava em todas as magias.

Inventava a cor das vogais! - A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. Regulava a forma e o movimento de cada consoante, e , com ritmos institivos, me vangloriava de ter inventado um verbo poético acessível, um dia ou outro, a todos os sentidos. Era comigo traduzí-los. Foi primeiro um experimento. Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens."


- in Delírios II, Alquimia do Verbo, de Arthur Rimbaud (1854-1891) - trad. Paulo Hecker Filho

5 comentários:

carol pedrosa disse...

muito bom.
vou adicionar seu blog nos meus links ok?
beijos.

Fabio Issao disse...

fique à vontade, querida. obrigado pelo comentário!

sat nam!
f.

carol pedrosa disse...

linkarei com o maior prazer.
p.s: adorei você ter colocado o poema chuva interior do mário chamie aqui.

você viu o filme 'a via láctea'?

carol pedrosa disse...

ô fábio, atualiza aqui. saudade de ler seus textos.
:)

Fabio Issao disse...

querida, desculpe a ausência.... ando inspirado mas sem muitas palavras na manga. obrigado pelo carinho aqui manifestado, vou ler com calma o seu blog também.

eu assisti sim o Via Láctea, é exatamente por isso que postei o poema do Chamie, maravilhoso!

me despeço aqui.

beijo grande procê.
f.