matei, com as quilhas na areia, o poema.
I.
matei, com as quilhas na areia, o poema.
e o quanto houvesse dito sem poesia.
e um tanto de intuição
e desperdício
fizeram-me deixar um remo
na árida terra,
na inútil paisagem de um pensamento.
sobrevieram dizeres, saberes, palavras
que, sem norte ou montes à vista
morreram sem saber de outros poemas.
ainda restam, vívidas, palavras sombrias, sentidos, vertigens,
rostos que não se enamoraram de nenhuma poesia
e prosseguem sem a certeza de encontrar o tempo
nas frases contido, o tempo corrido, a viagem do
encontro à despedida.
insisto na caça, permanentemente enlutado
esquivo de vislumbres e alumiações
mas é em vão fatigá-las, porque logo se avista
um sentimento perambulando, indefinido de mais
do que lhe é concedido.
II.
deixei o poema não escrito
à entrada da gruta,
os crivos abandonei.
as armas, os silêncios
rumores, paisagens,
as metas
adentrei
o plexo noturno e um rio invisível
vazando pelas sombras,
algozes de solitária recreação;
rede de riso,
labirinto,
condão
na água alojada
nos ninhos do chão
nascentes, chuvosos
imprimiam
sulcos
no rosto e na alma
que o dia
não evaporara
prenhe de tempo
o poema viscoso
rabioso e furtivo
não mais segregado
ou partido
brilhava incerto de som
e rima
e sapiência
e compreensão
desejava no leito da terra
no verso pedregoso e frio
um silêncio resignado
das noites que o contém.
III.
o poema à revelia
oprimido e febril
na intermitência
da saliva e do grito
intimado na unção de
janelas e
escombros
ou fraturas,
era fulminado
pela ternura de um crepúsculo
dum outono cativo
de saliências
nos acordes do tempo
no charque e no remate
no espectro de folhagens
e no acúmulo de montes
o poema explodia, toda
e qualquer garantia
sem concessão
de rumo ou abandono.
O poema-não
se morria.
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