escrevo prá ela, porque somente ela possui a chave dos meus segredos. ela, que é tão distante e vive em meu inventário falando sempre baixinho, sem que eu perceba sua voz e o tom altivo do seu rosto invisível, pouco sabe do destino destes pensares. sabe, no entanto, recebê-los sem pudores, medos ou andrajos. seca cada palavra ao sol no varal dos desentendimentos e dá-lhes uma banho de verdades, extendendo-as no arco da solidão, despojando-as de toda filosofia ausente de humanidade. recita calmamente a tonalidade sutil das vírgulas, evitando entortar o tempo já tão enviesado e sem origem. depois, torna a inserir seus silêncios em cada espaço vago, que outrora abrigava o contemplar da lua, do chão e das paredes. assim, alinhava um terço de beleza nas suas respostas, quando me devolve enfim, a carta rasgada.
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o tempo desgastado, a parede descascando e o chão coberto de pó.
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