sementes
Somos sementes enquanto aguardamos o desenvolver de nossas raízes, enquanto preparamos a terra para receber o fruto forte e sadio que há de vicejar e um dia tornar-se fronde duradoura e sombra fresca para nosso descanso. Enquanto sementes devemos, contrangidos pela porção de terra que nos cerca, pela seca e pelo excesso de chuva que muitas vezes nos põem à prova, pelo vento frio, pela neve e pelo calor escaldante do sol, sucumbirmos ou dilatarmos. Não há outra escolha a ser feita, dado que a semente só germina quando decide, dentro de sua ínfima estrutura, irromper na direção da luz, alimentando-se dos revezes e do aconchegante raio de sol, da gota úmida e refrescante que a chuva carrega, do carinho das mãos de quem palmilha o solo, da esperança nutrida durante a noite para ver transcender o que antes era apenas um grão, amorfo e derradeiro. Da semente derivamos raízes, caminhos e veredas, e parte destas é conduzida ao centro da terra, onde jazem profundas estrelas obscuras, iridescentes grãos e minerais movimentando-se eternamente para alimentar nossas seivas, elaboradas na paciência, na afeição e no amor. Ao outro extremo, alicerçadas pelas raízes que fundam o nossa estrutura, despontam lentamente as raízes guerreiras, que hão de caminhar para beber da luz do sol, impregnarem-se do alento verdejante que sintetiza a vida, proliferando-se em uma única direção, a luz. E neste processo, ainda somos sementes, já que é preciso muito mais do que superar o cascalho e a pedra, o solo e o encontro com os primeiros raios de sol: há um infinito caminho de elaboração, disciplinada e rotineira, diária e vital na existência daquilo que é o verdadeiro sentido da árvore. Não importa a coloração das tuas folhas, a doçura e a beleza dos teus frutos se a tua estrutura não está bem fundada, importa que a tua árvore sirva, juntamente com todas as outras árvores, para um bem maior, que é a Vida. Servir é alimentar-se do sentido das coisas, do laço que nos une a cada pequena partícula da terra, do ar, da água, do mineral e do vegetal; do laço que construímos no sentido do nosso relacionamento com cada unidade do nosso ser, memória, idéia, pensamento, esperança, sonho, sofrimento, preocupação e concentração; do laço que vivifica e transforma o relacionamento com nossos semelhantes, pais, irmãos, avós, netos, amigos, parceiros, companheiros de vida; do laço que nos engrandece e nos permite caminhar para a imortalidade, do afeto, da compaixão, da amizade e do amor. Relações e relacionamentos são os caminhos de que dispomos para entendermos a nossa história, o nosso presente e o nosso futuro, que nos permitem nos aprimorar enquanto seres humanos, fundando laços baseados na Verdade e no Entendimento mútuo, na Aceitação das diferenças, na Compreensão da vida e no Auto-Conhecimento, laços que nunca hão de nos fazer esquecer a nossa herança: de que um dia todos nós fomos sementes.
Viva 2008!
A toda Família, irmãos, amigos queridos, companheiros de estrada e de vida.
Namaste!
Fabio Issao
2 comentários:
Feliz ano novo, Fábio!
Que os brotos de nossas sementes se encontrem sob a luz do sol em 2008.
Grande beijo,
V.
Queridíssima, obrigado! Desejo um ótimo ano de 2008 para todos nós! Com certeza, nossas sementes hão de brotar nessa mesma terra, para o mesmo sol, entrelaçadas pela amizade que nestes 11 anos só cresceu de tamanho e força.
Beijo enorme!
f.
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