20 dezembro 2007

sementes

Somos sementes enquanto aguardamos o desenvolver de nossas raízes, enquanto preparamos a terra para receber o fruto forte e sadio que há de vicejar e um dia tornar-se fronde duradoura e sombra fresca para nosso descanso. Enquanto sementes devemos, contrangidos pela porção de terra que nos cerca, pela seca e pelo excesso de chuva que muitas vezes nos põem à prova, pelo vento frio, pela neve e pelo calor escaldante do sol, sucumbirmos ou dilatarmos. Não há outra escolha a ser feita, dado que a semente só germina quando decide, dentro de sua ínfima estrutura, irromper na direção da luz, alimentando-se dos revezes e do aconchegante raio de sol, da gota úmida e refrescante que a chuva carrega, do carinho das mãos de quem palmilha o solo, da esperança nutrida durante a noite para ver transcender o que antes era apenas um grão, amorfo e derradeiro. Da semente derivamos raízes, caminhos e veredas, e parte destas é conduzida ao centro da terra, onde jazem profundas estrelas obscuras, iridescentes grãos e minerais movimentando-se eternamente para alimentar nossas seivas, elaboradas na paciência, na afeição e no amor. Ao outro extremo, alicerçadas pelas raízes que fundam o nossa estrutura, despontam lentamente as raízes guerreiras, que hão de caminhar para beber da luz do sol, impregnarem-se do alento verdejante que sintetiza a vida, proliferando-se em uma única direção, a luz. E neste processo, ainda somos sementes, já que é preciso muito mais do que superar o cascalho e a pedra, o solo e o encontro com os primeiros raios de sol: há um infinito caminho de elaboração, disciplinada e rotineira, diária e vital na existência daquilo que é o verdadeiro sentido da árvore. Não importa a coloração das tuas folhas, a doçura e a beleza dos teus frutos se a tua estrutura não está bem fundada, importa que a tua árvore sirva, juntamente com todas as outras árvores, para um bem maior, que é a Vida. Servir é alimentar-se do sentido das coisas, do laço que nos une a cada pequena partícula da terra, do ar, da água, do mineral e do vegetal; do laço que construímos no sentido do nosso relacionamento com cada unidade do nosso ser, memória, idéia, pensamento, esperança, sonho, sofrimento, preocupação e concentração; do laço que vivifica e transforma o relacionamento com nossos semelhantes, pais, irmãos, avós, netos, amigos, parceiros, companheiros de vida; do laço que nos engrandece e nos permite caminhar para a imortalidade, do afeto, da compaixão, da amizade e do amor. Relações e relacionamentos são os caminhos de que dispomos para entendermos a nossa história, o nosso presente e o nosso futuro, que nos permitem nos aprimorar enquanto seres humanos, fundando laços baseados na Verdade e no Entendimento mútuo, na Aceitação das diferenças, na Compreensão da vida e no Auto-Conhecimento, laços que nunca hão de nos fazer esquecer a nossa herança: de que um dia todos nós fomos sementes.


Viva 2008!
A toda Família, irmãos, amigos queridos, companheiros de estrada e de vida.
Namaste!

Fabio Issao

2 comentários:

Anônimo disse...

Feliz ano novo, Fábio!
Que os brotos de nossas sementes se encontrem sob a luz do sol em 2008.
Grande beijo,
V.

Fabio Issao disse...

Queridíssima, obrigado! Desejo um ótimo ano de 2008 para todos nós! Com certeza, nossas sementes hão de brotar nessa mesma terra, para o mesmo sol, entrelaçadas pela amizade que nestes 11 anos só cresceu de tamanho e força.

Beijo enorme!
f.