falso picasso
Intuitivamente,
você olhou a paisagem
De passagem, deixou-a para trás,
esquecida na mente,
durante a viagem.
Infelizmente,
você chorou ao olhar estes olhos,
quando os mesmos olhos que um dia
te visitaram como um bom lembrete,
não puderam dizer-lhe de qualquer forma;
não se pode reconhecer
naqueles brilhos castanhos,
você mesma.
Repentinamente,
por um gesto você se apaixona,
de relance, se entrega
com meias palavras
ao quadro que escolheu.
fabio issao
07.04.97
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há 10 anos eu tento reescrever esse poema. melhorá-lo. extrair dessas palavras e versos um pouco mais de clareza de um sentimento que volta e meia me assalta o pensamento. que durante as noites insones, agrega peso e densidade a um torpor já existente. que se manifesta no dia a dia, entrevisto nos olhares alheios e sentido no próprio peito, mesmo que, todavia, ele já tivesse sido experimentado. mas há 10 anos que ele não muda, e cada vez que o leio, ele me diz que não é necessariamente o tempo que o torna melhor enquanto obra ou simples acontecimento, nem que um insight qualquer da juventude possa ganhar contornos de sabedoria precoce, nem que o avanço e a experiência de vida articulem com maior entendimento a teia de palavras e saberes. mas sobretudo, que certas verdades, mesmo que entrevadas na forma e na superfície, conduzem à luz sob quaisquer circunstâncias. ainda assim, eu continuo tentando reescrevê-lo e é, nessas vãs tentativas, que ele se transforma novamente, sob outros aspectos. o poema feito de um tempo que não se conta no relógio.
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