notas do subterrâneo
" (...) Nossa livre vontade, nosso arbítrio, nosso capricho, por louco que seja, nossa fantasia excitada até a demência, eis precisamente aquele "interesse interessante" que deixamos de lado, que não se enquadra em nenhuma classificação e manda para o inferno todos os sistemas, todas as teorias. Onde esses sábios descobriram que o homem necessita não sei que vontade normal e virtuosa? O que nos levou a imaginar que o homem aspira a uma vontade racionalmente vantajosa? O homem só aspira a uma vontade independente, qualquer que seja o preço a pagar por ela, e leve aonde levar. E que vontade é essa, só o diabo sabe..."
[ Cap. VII, pg. 35 ]
" (...) Vede, senhores, a razão é um coisa excelente; isso é incontestável; mas a razão é a razão, e satisfaz apenas a faculdade de raciocinar do homem, enquanto que a vontade é a expressão da totalidade da vida, ou seja, da vida humana inteira, inclusive a razão e seus escrúpulos; e embora nossa vida, tal como se exprime assim, se torne às vezes má, nem por isso deixa de ser a vida, e não uma extração de raiz quadrada. Assim, eu, por exemplo, quero viver, naturalmente, a fim de satisfazer minha faculdade de raciocinar que só representa, afinal, a vigésima parte das forças que há em mim. Que sabe a razão? A razão só sabe o que aprendeu (provavelmente saberá outra coisa, por que não dizê-lo com franqueza?), enquanto que a natureza humana em si, consciente e inconscientemente; e, mesmo errando, vive. (...) "
[ Cap. VIII, pg. 38 ]
— Notas do Subterrâneo, Fiodor Dostoievski.
Nenhum comentário:
Postar um comentário