madrugada
e a gente consome a madrugada, como se fosse possível verter toda a noite para dentro do nosso ser. ali, ela ressoa, luaral de calmaria, urgindo seus segredos. e a gente se procura nesse vão que é o intermédio entre a noite e o dia — antes do dia ser dia, antes da noite findar inteira ante o nosso sentir.
e o sono se esvai como uma pétala que se desprende espontaneamente da flor, onde o cálice já não comporta tanta fragrância nem ousa saber-se tão colorido e, ao cair — preguiçosa, torna a terra mais suave; e um caminho florido terá o viajante, cansado de tanta vereda.
na noite mais madrugada possível, vai nascendo um rio silencioso alterando as rotas marcadas de tanta pegada: as apaga como quem desmancha uma bolha de sabão no ar. assim, só aquele que de muito andar e dormir na terra vai saber, por meio de sonho ou devaneio, que ali existiu uma estrada que ligava o céu à terra.
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