camiños
imensos, caminhos dão vazão ao mundo oculto trás dos montes, e uma cidadela repleta de inusitados abrirá suas chancelas aos nossos passos, aos olhares adivinhados pelo vento que naquela manhã soprava em múltiplas, oscilantes e transversais direções. pois que, diante do novo mundo, pouco restaria de nossa identidade passada, toda memória, cruzada a primeira esquina, seria revista e toda analogia encontraria novos e adversos sentidos de ligação. e cada pedaço de arquitetura na casca das muradas, cada platibanda desgastada pelo olvido, cada beco de passagem, abrir-se-ia à outros mundos, outras cidades, dentro das mesmas cidades. de passagem, nos convidariam a entrar em alguma moradia feita de tons familiares e quadros idealizados e tapetes vindos de não sei que embarcação oriental, a sentarnos em suas mesas de peroba polida, coberta por uma fina toalha de renda artesã, a degustar os aromas de plantas colhidos noutras terras na quentura do chá, servido fresco ao lado de deliciosos bolinhos de vento e a versar sobre todo e qualquer pensamento, invento, sensação. e, depois de alguns istmos temporais, levantarmos a percorrer as trilhas do próximo e indizível crepúsculo, que sucumbiria ao chão de algum oceano terroso e amarelecido pelo calor do astro-rei que enfim descansaria junto à úmida sensação de vertigem que o mar lhe proporciona. voltaríamos sob a vigília do grande olho branco no céu, em estrada de oitizeiros e calçadas de capim-santo, sorvendo damas-da-noite, serestas de sapos, trinados líricos de bem-te-vis, algazarra de grilos e histórias de formigas-de-fogo. no luaral, uma rede entre dois férteis pinheiros, ao relento das refrescantes sombras e do orvalho florescente. ali, poríamos nossas bagagens, já tão leves e despojadas, cheias de sorrisos colhidos nos campos de trova, versos juntados em leituras imaginadas, gestos de amizade e aproximação, sonhos e caramelos, sapatos e calças e camisas com botões em flor, lenços divinados de brisa e sabor de magia, algumas cotas de adivinhação, livros de páginas em branco e um sono secular de viajantes – dormiríamos. peninsulares. ilhados. ao devir.
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